23/05/2018
O Centro Materno Infantil do Norte (CMIN) vai realizar no sábado, dia 26 de maio, uma cirurgia por microlaparascopia extraperitoneal, «pioneira em Portugal» no tratamento do cancro uterino, com transmissão em direto para 200 médicos.
«O procedimento é pioneiro no nosso país», afirma Hélder Ferreira, coordenador da Unidade de Cirurgia Ginecológica Minimamente Invasiva do Centro Hospitalar do Porto, a que está associado o CMIN. «Consiste numa abordagem minimamente invasiva ao cancro do útero por via extraperitoneal e tem muitos benefícios em termos de tratamento, por permitir à paciente uma recuperação mais rápida, menos complicações pós-cirúrgicas e uma menor taxa de recorrência da doença», explicou o médico.
O ginecologista e cirurgião disse que a formação nessa técnica inovadora se revela particularmente útil numa altura em que «a incidência do cancro do útero e endométrio está a aumentar nas sociedades ocidentais devido à obesidade, à hipertensão arterial, à diabetes, à dislipidemia e à terapia hormonal de substituição».
A cirurgia em causa será realizada no âmbito de uma reunião médico-científica em que profissionais de Ginecologia, Obstetrícia, Oncologia e outras especialidades clínicas seguirão, pelo auditório do CMIN, em tempo real, duas intervenções conduzidas no bloco operatório por cirurgiões de referência internacional.
Além desta, será realizada outra cirurgia, também prevista para dia 26 de maio, que consiste num «tratamento laparoscópico de endometriose muito severa com comprometimento da função renal e reprodutiva». Tem como finalidade evitar a remoção de um rim cujo desempenho está ameaçado pela doença, que se caracteriza pelo alojamento de células do endométrio uterino noutros órgãos, afeta «10 a 15% da população feminina em idade reprodutiva, pode ser muito incapacitante e, apesar de raras vezes manifestada nas suas formas mais graves, infelizmente se mantém subdiagnosticada», acrescentou.
Segundo Hélder Ferreira, são «duas cirurgias altamente inovadoras», tanto em Portugal como nos outros 14 países representados no evento, e o modo como serão filmadas e transmitidas para o auditório do CMIN também constitui «uma novidade», na medida em que recorre ao sistema Ultra HD (4K) para «garantir aos profissionais na plateia um detalhe de imagem muito superior».
«Será a primeira vez que em Portugal se transmitem cirurgias em resolução Ultra HD recorrendo a uma câmara laparoscópica de maior definição», explicou o cirurgião. «Isso possibilita a identificação de estruturas anatómicas de dimensões mínimas – como pequenas artérias, veias, nervos, canais linfáticos – e permite magnificar a imagem dos tecidos do doente, viabilizando assim ainda maior precisão na técnica cirúrgica, mais eficácia e segurança no procedimento, maior radicalidade na remoção da doença e menos perdas de função nos órgãos por ela afetados», defendeu.
Para conduzir as duas cirurgias o CMIN convidou “quatro experts de reputação mundial”, incluindo o francês Arnaud Wattiez, especialista em endometriose severa, professor de Ginecologia na Universidade de Estrasburgo, diretor do curso de Cirurgia Ginecológica no Instituto de Investigação em Cancro Digestivo, chefe do Departamento de Ginecologia do Hospital Latifa do Dubai e presidente da Academia Europeia de Cirurgia Ginecológica.
Também foi convidada a cirurgiã belga Pascale George, perita em laparoscopia ginecológica no Centro Hospitalar do Norte do Luxemburgo, e os cirurgiões espanhóis Juan Gilabert-Estellés, diretor da Escola Europeia de Endoscopia Ginecológica e perito em oncologia e cirurgia minimamente invasiva, e Alberto Vázquez, reconhecido pelo seu trabalho em medicina reprodutiva no Instituto Valenciano de Infertilidade e no Instituto Universitário Dexeus de Barcelona.
Entre os 200 médicos de 15 nacionalidades a reunir no auditório do CMIN para acompanhar essas cirurgias contam-se profissionais de países como Suíça, Reino Unido, França, Rússia, Holanda, Bélgica, Uruguai, Estónia, Brasil e Sudão, que terão «oportunidade de apresentar em tempo real as suas dúvidas sobre as cirurgias».
Fonte: Lusa
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