30-11-2018
O Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge apresentou, dia 21 de novembro, os resultados nacionais do programa de vigliância “AspergillusResistance Surveillance working group” (ISHAM/ECMM), no âmbito da II Reunião da Rede Nacional para Vigilância Laboratorial das Infeções Invasivas e Subcutâneas. Os Aspergillus são fungos ambientais que causam infeções principalmente em imunocomprometidos, sendo a mortalidade associada à aspergilose invasiva de cerca de 50%, se tratada, e superior a 99%, se não tratada.
Desde 2013 que o Instituto Ricardo Jorge, através do seu Departamento de Doenças Infeciosas, realiza a vigilância da epidemiologia de Aspergillus, tendo sido apresentados nesta reunião os dados referentes a 2017-2018. Dos isolados clínicos analisados, observou-se elevada variabilidade de espécies da secção Fumigati, nomeadamente A. lentulus ou A. felis que apresentam menor suscetibilidade aos antifúngicos utilizados no tratamento destas infeções.
A maioria dos isolados de Aspergillus analisados foram obtidos a partir de amostras respiratórias, nomeadamente de lavados brônquicos e lavados broncoalveolares. Foram analisados 183 isolados, tendo sido identificadas 21 espécies, das quais 17.5% correspondiam a espécies crípticas, apenas possíveis de identificar por métodos moleculares.
No período compreendido entre 2013 e 2018 foi testado o padrão de susceptibilidade aos azóis de 194 isolados de A. fumigatus “sensu stricto”, não se tendo observado resistências. No entanto, um estudo publicado este ano, no norte do país, descreve pela primeira vez em Portugal a ocorrência de isolados multirresistentes, o que reforça a importância da vigilância epidemiológica e local.
Estudos recentes indicam a emergência de resistência aos azóis em Aspergillusisolados de doentes diagnosticados com aspergilose, possivelmente devido ao uso extensivo de pesticidas agrícolas. As recomendações do European Center for Diseases Prevention and Control (ECDC) incluem o aumento da vigilância epidemiológica, o desenvolvimento de metodologias que permitam deteção rápida de isolados de A. fumigatus resistentes aos azóis e a investigação da origem ambiental de isolados resistentes, quer por estudos em campo quer laboratoriais.
Para além dos doentes imunodeprimidos, os doentes admitidos nas unidades de cuidados intensivos com diagnóstico de gripe apresentam um risco acrescido de desenvolver aspergilose invasiva. Num estudo de cohort multicêntrico realizado, entre 2009 e 2016, em unidades de cuidados intensivos na Bélgica e Holanda reportou elevada incidência aspergilose invasiva (19%), 83 de 423 doentes adultos com diagnóstico de gripe. No mesmo estudo, a mortalidade associada apenas a gripe foi de 28%, enquanto que a mortalidade associada a coinfecção da gripe com aspergilose foi de 51%.
Estes trabalhos reforçam a importância da identificação molecular e vigilância regular da suscetibilidade de Aspergillus de origem clínica, principalmente em doentes sujeitos a profilaxia/tratamento prolongado com azóis. O ECDC chama ainda a atenção para os doentes dos cuidados intensivos infetados pelo vírus da gripe como grupo de risco para aspergilose pulmonar invasiva, para o qual a comunidade médica poderá ainda não estar alerta.