04-02-2020
O Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, através do seu Departamento de Genética Humana (DGH), apresentou um conjunto de contributos para a futura Missão Cancro, uma das cinco áreas das primeiras grandes missões de I&D definidas no âmbito do próximo Programa-Quadro de Investigação e Inovação, Horizonte Europa (2021-2027) da Comissão Europeia. Estes contributos foram apresentados no seguimento de uma sessão de auscultação promovida pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e a Associação Nacional para a Inovação.
A iniciativa, que decorreu no passado mês de janeiro, contou com a presença de diversos profissionais da comunidade nacional da área do cancro, entre os quais oncologistas de hospitais, investigadores de faculdades de medicina, ordens profissionais, associações de doentes, e outros profissionais da área do cancro, incluindo representantes do DGH. Após este encontro, o Instituto Ricardo Jorge fez chegar os seus contributos ao Embaixador da Missão para Portugal, professor Pedro Pita Barros.
Nestes contributos, os especialistas do DGH reforçaram a conclusão consensual da referida sessão, nomeadamente que a Missão Cancro seja focada para uma efetiva redução do número de mortes por cancro. Este número é causado não só por algumas formas mais agressivas de tumores, com prevalências variáveis, mas também pela presença subestimada na população de uma predisposição genética através de mutações hereditárias que passam de pais para filhos nas famílias afetadas e inativam genes que protegem da tumorigénese.
Conhecer a real incidência de cancros hereditários requer em primeiro lugar um registo eficaz e sistemático português, ligado ao registo europeu, acompanhado por ações de sensibilização dirigidas aos oncologistas e médicos assistentes para o reconhecimento e encaminhamento correto de doentes com história familiar de cancro. Estes cancros são muitas vezes agressivos e ocorrem frequentemente em idades precoces, mas apesar de possuírem um potencial preventivo enorme, continuam a causar a perda de muitos anos de vida.
Assim, os cancros hereditários têm grande impacto económico e social na vida das famílias afetadas e a sua deteção precoce iria trazer grande impacto em saúde pública, incluindo a sua prevenção em familiares saudáveis. No que diz respeito à prevenção do cancro em geral, o DGH ainda acrescentou que a Missão Cancro devia reforçar, de forma mais incisiva e sistemática, a educação e literacia da população em geral e dos profissionais de saúde, sobre os fatores de risco inerentes aos estilos de vida e a responsabilidade que cada indivíduo tem em contribuir para a redução dos números de mortes por cancro.
O Instituto Ricardo Jorge realiza testes genéticos em diversos cancros hereditários, principalmente da mama e colorretal, sendo o Laboratório de Referência para o neuroblastoma, um tumor pediátrico raro, e conduzindo ainda investigação para a identificação de biomarcadores e alvos terapêuticos em cancro do cólon.
As Missões de I&D são uma novidade no programa Horizonte Europa (2021-2027) para melhor associar a investigação e a inovação da UE a grandes desafios e necessidades da sociedade e dos cidadãos, com forte visibilidade e impacto. Estas missões incluirão um conjunto de ações que visam alcançar um objetivo ambicioso e inspirador, bem como quantificável no quadro temporal da próxima década, com impacto na sociedade, assegurando otimizar a perceção por todos os cidadãos da relevância da atividade de I&D na Europa.
O Dia Mundial de Luta Contra o Cancro assinala-se a 4 de fevereiro. Portugal registou 58.199 novos casos de cancro, prevendo-se um aumento para 69.565 em 2040, de acordo com o Observatório Global de Cancro. Um em cada três cancros podia ser evitado com a adoção de um estilo de vida mais saudável. Segundo dados da Agência Internacional de Investigação do Cancro (IARC), o cancro do cólon passou a ser, em 2018, a primeira causa de novos casos de cancro em Portugal.