21-02-2020
O Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, em colaboração com o MARE – Centro do Mar e Ambiente, do Departamento de Ciências da Vida da Universidade de Coimbra, desenvolveu um estudo com o objetivo de determinar a prevalência de Borrelia burgdorferi s.l., o agente etiológico da borreliose de Lyme, em carraças recolhidas de aves ao longo de uma ampla distribuição geográfica na Europa. De acordo com os resultados obtidos, o tordo-zornal Turdus pilaris e o melro-preto T. merula foram as espécies de aves que mais carraças infetadas transportavam.
Coordenado por Isabel Lopes de Carvalho e Sofia Núncio, investigadoras do Departamento de Doenças Infeciosas do Instituto Ricardo Jorge, e por Ana Cláudia Norte, investigadora do MARE, este trabalho, que contou também com a colaboração de institutos de investigação de 11 países europeus, demonstrou ainda que a espécie de Borrelia mais comum detetada nas carraças recolhidas de aves foi Borrelia garinii, genoespécie patogénica ao Homem e associada à transmissão de borreliose de Lyme.
Outro dos resultados indica que a caracterização genética revelou que há limitada sobreposição de genótipos entre diferentes continentes, mas que ao nível europeu não se distingue uma estrutura populacional definida relacionada com a distribuição geográfica. “Isto provavelmente deve-se aos movimentos de dispersão das aves que transportam as carraças vetor e a própria bactéria”, referem os autores.
O trabalho desenvolvido permitiu ainda descrever uma nova espécie de Borrelia “Candidatus Borrelia aligera” em carraças recolhidas de aves, aumentando o espectro de genoespécies deste complexo de bactérias detetadas em associação com as aves. O estudo agora publicado apresenta resultados de 2308 amostras recolhidas, entre 2005 e 2016, em 843 aves de 28 espécies diferentes.
“Estudo contribuiu para um melhor conhecimento da ecologia e evolução de Borrelia garinii transmitida por carraças, demonstrando que o papel das aves na disseminação do agente etiológico desta doença não pode ser negligenciado, porque estas contribuem para uma mistura espacial a larga escala das várias linhagens de Borrelia podendo levar à evolução de novas variantes”, explica Isabel Lopes de Carvalho, acrescentando que “isto é essencial para ajudar a avaliar o risco de doença”.
Borreliose de Lyme é uma doença multissistémica, que pode afetar vários tecidos ou órgãos. É uma doença evolutiva que na sua fase inicial se caracteriza pelo aparecimento de uma lesão na pele, designada como eritema migratório. Nas fases seguintes outros órgãos podem ser afetados e causar lesões ao nível articular (artrite de Lyme), neurológico (neuroborreliose) ou dermatológico (acrodermatite crónica atrofiante).
As conclusões deste trabalho foram publicadas na revista “Molecular Ecology”. Para consultar o artigo “Host dispersal shapes the population structure of a tick‐borne bacterial pathogen”, clique aqui.
Fotografia: Hugo Guímaro