28/10/2020
O Serviço de Neurocirurgia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), implantou hoje, pela primeira vez no nosso país, uma nova geração de neuroestimuladores, em doente com quadro complexo de dor crónica, com capacidade de adaptar a estimulação elétrica à anatomia e quadro clínico do doente.
A cirurgia foi efetuada na Unidade de Cirurgia de Ambulatório (UCA), estando a equipa do CHUC em contato direto com o Professor Patrick Mertens, «referência mundial no tratamento neurocirúrgico da dor, do hospital Pierre Wertheimer de Lyon, que acompanhou a cirurgia em permanência através de um sistema de vídeo e áudio integrante dos óculos do cirurgião, tendo assim, ambas as equipas, a mesma visão e colaborado em direto», destaca o CHUC.
o neurocirurgião responsável pela Unidade de Estereotaxia e Neurocirurgia Funcional (Serviço de Neurocirurgia) Ricardo Pereira, explica que «a neuroestimulação medular é uma das terapêuticas mais modernas e eficazes no tratamento de quadros específicos de dor crónica, nomeadamente na classe da dor chamada neuropática, onde muitos outros tratamentos são ineficazes e onde a neuroestimulação medular consegue, em casos bem selecionados, resultados excelentes, abrindo uma nova esperança para doentes sem outras alternativas viáveis.»
Técnica bloqueia a perceção da dor, aliviando essa sensação na zona afetada do corpo
Prossegue dando nota de que «no CHUC, já utilizamos há alguns anos a neuroestimulação em casos selecionados de dor neuropática após cirurgias de coluna, traumatismos de nervos e angina de peito refratária, com resultados muito favoráveis. Sendo uma área de forte inovação tecnológica ir-se-á manter a implantação dos mais modernos sistemas, que possibilitem tratar casos que previamente não teriam terapêuticas eficazes disponíveis.»
Ricardo Pereira refere que «a técnica consiste na implantação de um pequeno elétrodo no interior da coluna, o qual, após uma fase de teste em que se verifica a resposta positiva no controlo da dor, é ligado a um pequeno gerador elétrico subcutâneo que aplica os pulsos elétricos que, estimulando ciclicamente a medula, bloqueiam a perceção da dor, aliviando essa sensação na zona afetada do corpo.»
Menciona ainda Ricardo Pereira que «em muitos casos, não é sequer possível identificar a causa da dor crónica. Dado o avanço significativo que o tratamento da dor tem tido nos últimos anos, o objetivo último na dor crónica é não só o alívio da dor, mas a reabilitação e recuperação dos doentes para um melhor nível funcional, a nível pessoal, social e laboral».
A dor crónica é habitualmente definida como uma dor de duração superior a 3 meses, excedendo largamente o período em que seria expectável que o organismo recuperasse de uma agressão. É causa de sofrimento intenso por parte dos doentes atingidos, com repercussões a nível laboral, familiar, social e do seu bem-estar físico e psíquico.
Trata-se de uma situação muito mais frequente do que por vezes se possa pensar, estimando-se que entre 25 a 35% dos adultos sofrem de dor crónica, um terço dos quais não sendo sequer alvo de qualquer tratamento. As causas de dor crónica podem ser muitas, como situações decorrentes de traumatismos, procedimentos cirúrgicos, doenças degenerativas osteoarticulares, insuficiência vascular, lesões do sistema nervoso, entre outras.
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