A dose certa para cada doente: Farmacêutica do IPO Lisboa vence prémio com método inovador

09/01/2018

A farmacêutica Vera Domingos venceu o Prémio Científico Professor Doutor Aluísio Marques Leal com a apresentação do trabalho «Individualização do tratamento com bussulfano no Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa». Este medicamento é usado em doentes que vão fazer transplante de medula e, em Portugal, a técnica desenvolvida só é aplicada no IPO Lisboa.

O bussulfano é um medicamento citotóxico usado como tratamento condicionante numa boa parte das pessoas que fazem transplante de medula. Administrado durante quatro dias antes do transplante, é necessário e eficaz, mas tem o grande inconveniente de ser metabolizado de forma completamente diferente e imprevisível de doente para doente. Em excesso, é tóxico e pode ser fatal, numa dose baixa compromete o resultado do transplante e a vida dos doentes.

O problema, grave e desafiante, só podia ser resolvido se fosse possível determinar a dose certa de bussulfano para cada doente. Diante deste repto, o Serviço Farmacêutico do IPO Lisboa desenvolveu um procedimento que mede os níveis do medicamento no sangue, o que permite aos médicos ajustar a dose de bussulfano, otimizando o tratamento e reduzindo as toxicidades.

O projeto teve início em 2014 e foi coordenado por Vera Domingos, do Serviço Farmacêutico do IPO Lisboa. «O bussulfano apresenta uma estreita margem terapêutica e uma elevada variabilidade intra e inter-individual. Com a metodologia desenvolvida pretendemos potenciar o seu efeito terapêutico, minimizando a toxicidade», explica a farmacêutica.

Segundo Vera Domingos, «a metodologia implementada é pioneira a nível nacional e, desde 2016, constitui um procedimento standard prestado a todos os doentes do IPO que são submetidos a transplante com regimes de condicionamento contendo bussulfano.»

O desenvolvimento deste trabalho foi feito em estreita articulação com a Unidade de Transplante de Medula (UTM) e com o Serviço de Imunohemoterapia do IPO Lisboa.

Também Nuno Miranda, médico na UTM, destaca a relevância e os benefícios clínicos deste procedimento, esclarecendo que «níveis elevados de bussulfano estão associados a complicações graves, que podem ser fatais para os doentes, e que níveis baixos podem comprometer a eficácia do transplante». Segundo o hematologista, «desde que o IPO começou a fazer a monitorização do bussulfano nunca mais se registou nenhum caso da chamada doença veno-oclusiva, um entupimento dos vasos capilares do fígado que pode comprometer a vida.»

Em Portugal, o IPO Lisboa é o único centro que faz doseamento de bussulfano, «um procedimento que se realiza ainda em muito poucos centros europeus.»

Para a execução da técnica, que já é rotina no IPO Lisboa, foi celebrado um protocolo com o Instituto Nacional de Medicina Legal de Lisboa, para onde são enviadas e analisadas as amostras sanguíneas dos doentes.

As análises, efetuadas no Serviço de Química e Toxicologia Forenses daquele instituto, são feitas no próprio dia, utilizando uma técnica de cromatografia líquida acoplada a espectrometria de massa. Os resultados são rapidamente enviados para o IPO, que ajusta a dose de bussulfano às necessidades e características individuais de cada doente.

Este projeto também conta com o apoio da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa e do University Medical Center Utrecht, na Holanda.

Para Vera Domingos, «a atribuição deste prémio reconhece a importância do trabalho que foi e está a ser desenvolvido no IPO. Fazemo-lo em contexto multidisciplinar e em parceria com outras instituições médicas e académicas. No futuro, pretendemos desenvolver este tipo de parcerias para aplicação a outros medicamentos».

O Prémio Professor Doutor Aluísio Marques Leal, no valor de 5.000 €, é atribuído pela Associação Portuguesa dos Farmacêuticos Hospitalares, de dois em dois anos, e visa estimular o desenvolvimento de trabalhos científicos originais e inovadores na área da farmácia hospitalar.

Para saber mais, consulte:

Instituto Português de Oncologia de Lisboa – www.ipolisboa.min-saude.pt