Estudo INSA: A Doença dos Legionários Poderá Ser Transmitida Pessoa-a-Pessoa

ESTUDO REVELA QUE DOENÇA DOS LEGIONÁRIOS PODERÁ SER TRANSMITIDA PESSOA-A-PESSOA
 A evidência de que a doença dos Legionários poderá ser transmitida pessoa-a-pessoa acaba de ser descrita por um grupo de profissionais de saúde portugueses pertencentes a várias instituições, entre estas a Administração Regional de Saúde do Norte e o Instituto Ricardo Jorge. Apesar do risco de transmissão pessoa-a-pessoa da doença dos Legionários ser certamente muito baixo, as conclusões deste trabalho poderão servir para alertar a comunidade médico-científica para a eventual necessidade de rever as medidas de prevenção e controlo desta doença.

O caso de provável transmissão pessoa-a-pessoa da doença dos Legionários descrito neste trabalho inédito a nível mundial ocorreu no contexto do surto que se registou na região de Vila Franca de Xira, entre novembro e dezembro de 2014, e que originou mais de 400 casos de doença, incluindo 14 mortes. Até hoje, a hipótese da doença dos Legionários se transmitir pessoa-a-pessoa nunca tinha sido evidenciada, sendo aceite que esta doença apenas poderia ser adquirida por inalação de aerossóis de fontes ambientais que contenham a bactériaLegionella.

No artigo científico publicado hoje, dia 4 de fevereiro, na revista New England Journal of Medicine, a revista mais conceituada mundialmente na área da medicina, os autores do estudo explicam que chegaram a estas conclusões depois de identificarem, na região de saúde do Norte, dois casos fatais de doença em familiares, em que um deles não tinha qualquer associação geográfica com Vila Franca de Xira (epicentro do surto). Esta descoberta surgiu paralelamente à investigação epidemiológica e ambiental realizada com o objetivo de controlar o surto da doença dos Legionários.

Perante a necessidade de melhor compreender a razão desta ocorrência, foi estudada pelo Instituto Ricardo Jorge a relação genética entre as bactérias isoladas destes doentes, tendo-se concluído, após a sequenciação total do genoma, em ambos os casos que, para além de se tratar da estirpe anteriormente identificada como causadora do surto de Vila Franca de Xira, as bactérias isoladas revelavam uma similaridade total do seu material genético. Além desta forte evidência, a investigação epidemiológica revelou a existência de um contacto muito estreito entre os dois familiares, pelo que a equipa de investigadores concluiu tratar-se de um caso provável de transmissão pessoa-a-pessoa de doença dos Legionários.

A doença dos Legionários é uma doença que se caracteriza por uma pneumonia, atingindo preferencialmente pessoas idosas, fumadoras, imunodeprimidas ou pessoas com doenças crónicas (como diabetes e doenças pulmonares, por exemplo). Os principais sintomas são febre, dores de cabeça, dores musculares, tosse e diarreia. A pneumonia provocada porLegionella pode ser grave, podendo a morte ocorrer em 5-14% dos doentes. Este microrganismo vive habitualmente na água, em ambientes aquáticos naturais, como rios e lagos, podendo contaminar sistemas de água criados pelo Homem, como redes prediais de abastecimento, sistemas de refrigeração, entre outros. A doença dos Legionários pode ocorrer como casos isolados ou na forma de surtos, sendo mais frequente entre o final do Verão e o Outono.

Com o título “Probable Person-to-Person Transmission of Legionnaires’ Disease”, o artigo é assinado por 17 coautores. Participaram neste trabalho clínicos da Administração Regional de Saúde do Norte e investigadores do Instituto Ricardo Jorge de Lisboa.

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Workshop «Doença dos Legionários: lições a retirar» a 26 de Outubro em Lisboa

A 26 de outubro de 2015, na reitoria da Universidade Nova de Lisboa, Campus de Campolide, em Lisboa, vai realizar-se um Workshop subordinado ao tema “Doença dos Legionários: lições a retirar”.

Os principais objetivos são os de conhecer melhor a epidemiologia da doença e as características particulares do agente bateriano, rever conceitos e sistematizar abordagens de investigação epidemiológica.

Para mais informação consulte o documento.

Hoje: Comunicado Conjunto sobre o Surto de Legionella (DGS-INSA-ARSLVT-IGAMAOT-APA)

Comunicado Conjunto da Direção-Geral da Saúde, Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, Inspeção Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território e Agência Portuguesa do Ambiente sobre o atual surto de Doença dos Legionários.

Veja aqui o comunicado.

Veja também o comunicado conjunto anterior a este.

Veja também os Comunicados da DGS sobre o surto.

«Conclusões:

1. O risco de adquirir a infeção, no âmbito do surto, é agora praticamente nulo;

2. Já não estão presentes as condições ambientais, incluindo as atmosféricas, que se conjugaram para originar o surto;

3. Mais de metade dos doentes, depois de tratados em regime de internamento, teve alta;

4. De notar a capacidade de resposta e efetividade que os serviços de saúde demonstraram face ao aumento súbito e inesperado da procura de cuidados diferenciados, incluindo cuidados intensivos;

5. O controlo do surto só foi possível devido ao empenho dos profissionais que, a nível local, na área clínica e da saúde pública, permitiram diagnosticar e tratar rapidamente os doentes e identificar as características epidemiológicas do surto;

6. A esta resposta local associou-se a existência de um forte dispositivo de coordenação criado em sede do Ministério da Saúde, em que participaram os Ministérios do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia, Ministério da Educação e Ciência, para além do Instituto Português do Mar e da Atmosfera e os Autarcas das áreas afetadas;

7. Lamentando os óbitos, deve realçar-se que a taxa de letalidade é relativamente baixa, quando comparada com surtos internacionais. No entanto, e uma vez que ainda se encontram doentes em cuidados intensivos, não se pode excluir a possibilidade de ocorrerem novos óbitos;

8. Verificou-se concordância entre os estudos ambientais e as pesquisas epidemiológicas;

9. Há dados analíticos que estabelecem ligação entre bactérias encontradas em água de torres de arrefecimento e amostras clínicas;

10. A população da zona afetada, que colaborou de forma exemplar no âmbito das medidas tomadas durante o surto, retomou as suas atividades habituais.

Lisboa, 21/11/2014
Francisco George (DGS), Fernando Almeida (INSA), Luís M. Cunha Ribeiro (ARSLVT), Nuno Banza (IGAMAOT), Nuno Lacasta (APA)»

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