Deteção da doença de Parkinson: Plataforma permite detetar doença pela rigidez da voz e ciclos vogais

30/10/2017

Diogo Braga, engenheiro do Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP), criou um website que analisa ficheiros de voz e determina se o utilizador tem indícios da doença de Parkinson, permitindo assim a deteção e o tratamento precoces.

Além de permitir a deteção precoce da doença de Parkinson em pessoas de diferentes idades, a tecnologia tem como objetivo diminuir os custos associados aos exames e aos tratamentos, explica o responsável pela criação deste projeto, que terminou recentemente a licenciatura em Engenharia Informática, no ISEP.

«Existe um elevado custo associado às doenças neurodegenerativas, com tratamentos dispendiosos e que apenas servem para dar uma melhor qualidade de vida do que aquela que os doentes teriam sem os tratamentos, que têm de ser cumpridos escrupulosamente para terem efeito», afirma o engenheiro.

No entanto, e de acordo com Diogo Braga, a doença tem outros custos para além do tratamento, que se prendem com os cuidadores, as depressões que os pacientes desenvolvem e o facto de estes não terem atividade no mercado de trabalho.

«Quando é feito um somatório desses custos, o resultado é bastante elevado», notou Diogo Braga, acrescentando que os tratamentos precoces não levam só a uma diminuição dos gastos associados, atuando também na progressão da doença para determinados estádios.

Para obter o resultado, basta que os utilizadores, anónimos ou identificados, descarreguem no website um ficheiro de áudio, nos formatos wav ou mp3, com cerca de cinco segundos.

O resultado é divulgado de imediato, indicando ao utilizador se tem indícios ou não, se deve consultar um médico ou repetir o teste noutro dia.

Esses indícios são detetados através de um sistema de aprendizagem automática (machine learning) baseada em dados de 24 pacientes com Parkinson, em diferentes estados de progressão da doença, e em dados de 30 pessoas saudáveis, tendo a precisão de identificação rondado os 92,38 % durante os testes, explica Diogo Braga.

O engenheiro explica ainda que a doença de Parkinson pode ser detetada pela rigidez na voz e nos ciclos vogais (que não conseguem ser percebidos pelos humanos).

«Quando expressamos uma vogal, a nossa boca faz um ciclo, que é suposto ser fluido, sem nenhuma rigidez e sem travar», indicou, esclarecendo que, nos doentes de Parkinson, é possível detetar esses fatores na voz numa fase precoce da doença.

Para o engenheiro, o fator diferenciador desta tecnologia é o facto de a deteção ser feita «com tolerância a ruído ambiente».

«Como os utilizadores poderão não estar em condições de laboratório, é importante que o sistema consiga detetar indícios da doença através da voz, mesmo quando a gravação apresenta ruído ligeiro», afirma.

Plataforma poderá vir a ser adaptada para outras doenças neurodegenerativas

O desenvolvimento do website demorou cerca de quatro meses e decorreu no âmbito do estágio curricular que o recém-diplomado do Instituto Superior de Engenharia do Porto realizou no Grupo de Investigação em Engenharia e Computação Inteligente para a Inovação e o Desenvolvimento.

A plataforma, que pode ser adaptada no futuro a outras doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer e o Huntington, ainda não se encontra online. Os docentes do Instituto Superior de Engenharia do Porto e orientadores do projeto, Ana Maria Madureira e Luís Filipe Coelho, esclarecem que a prioridade tem sido dada à publicação de artigos científicos, que permitam «validar e conferir um maior grau de credibilidade ao projeto».

O objetivo é, segundo os docentes, «refinar o protótipo, de modo a criar uma versão final que possa cumprir os exigentes e rigorosos padrões de qualidade e resposta necessários para ser reconhecida oficialmente como uma plataforma de apoio à medicina». 

Fonte: Lusa

Farmacêutica Portuguesa Bial alia-se a empresa dos EUA para comercializar medicamento para Parkinson

A farmacêutica portuguesa BIAL anunciou uma parceria, que pode chegar aos 145 milhões de dólares (perto de 136 milhões de euros), com a norte-americana Neuricrine, para desenvolver e comercializar o seu medicamento para Parkinson na América do Norte.

Os termos do contrato, de acordo com a BIAL, preveem que a empresa norte-americana Neurocrine Biosciences faça um pagamento inicial de 30 milhões de dólares (cerca de 28 milhões de euros) pela concessão da licença e que suporte as atividades necessárias para garantir a aprovação da FDA – Food and Drug Administration (órgão do Governo dos Estados Unidos responsável pelo controle dos alimentos e medicamentos).

“Estão previstos outros pagamentos à BIAL”, que podem “atingir o valor adicional de 115 milhões de dólares” (à volta de 108 milhões de euros), “mediante o cumprimento de várias etapas ao longo do processo de desenvolvimento, registo e comercialização”.

Para além disso, a empresa norte-americana deve fazer um pagamento adicional “pela percentagem das vendas, como contrapartida da produção e do fornecimento da opicapona”, que serão assegurados pela farmacêutica portuguesa, lê-se na nota informativa.

A opicapona, aprovada em julho de 2016 pela Comissão Europeia e comercializada desde novembro do mesmo ano na Alemanha e no Reino Unido, com a marca ONGENTYS, permite reduzir durante duas horas o estado de rigidez e incapacidade nos doentes com Parkinson, bem como retardar a progressão da doença.

Este é um fármaco de toma única diária, indicado como terapêutica auxiliar da levodopa (utilizada para alívio dos sintomas) em pacientes adultos com doença de Parkinson e flutuações motoras, que não são controlados com outros tratamentos.

Segundo o Presidente Executivo da BIAL, António Portela, a Neurocrine Biosciences tem uma vasta experiência no desenvolvimento de terapêuticas para desordens motoras e partilha a visão de longo prazo da farmacêutica portuguesa para este medicamento.

Para o responsável do Departamento Médico da Neurocrine Biosciences, Christopher O’Brien, citado pela BIAL, a opicapona vem aumentar o horizonte temporal em que os sintomas motores estão controlados de forma adequada e simplificar o regime de tratamento, por ser um medicamento de toma única.

O Presidente Executivo da Neurocrine Biosciences, Kevin C. Gorman, também referido pela empresa portuguesa, considera que garantir os direitos de comercialização da opicapona para os Estados Unidos e para o Canadá é um passo importante, visto que o medicamento representa uma resposta muito significativa na doença de Parkinson, com resultados notáveis e um período longo de exclusividade.

O acesso a este fármaco, após aprovação da FDA, vai “impulsionar” a estrutura comercial da empresa norte-americana e pode chegar a cerca de um milhão de pessoas que sofrem de Parkinson nos EUA, acrescentou.

Em janeiro, a BIAL e o Estado português assinaram um contrato de investimento no valor de 37,4 milhões de euros para investigação científica nas áreas dos sistemas nervoso central e cardiovascular, que se estende até 2018.