O trato gastrointestinal constitui uma importante barreira que separa o interior do corpo humano do ambiente externo, estando diretamente envolvido no metabolismo e transporte de substâncias endógenas e exógenas. A mucosa intestinal é a primeira barreira biológica encontrada pelas toxinas presentes na dieta, podendo assim ser exposta a teores elevados destes contaminantes presentes nos alimentos, nomeadamente, as micotoxinas (metabolitos secundários tóxicos de baixo peso molecular produzidos por fungos).
Com o objetivo de avaliar o efeito tóxico da exposição intestinal a patulina, bem como o potencial efeito protetor da coadministração de patulina e cisteína na membrana intestinal, o Departamento de Alimentação e Nutrição do Instituto Ricardo Jorge, em colaboração com outras instituições, efetuou um estudo onde determinou a integridade desta membrana após exposição a patulina. A integridade da membrana foi determinada pela medição da resistência elétrica transepitelial (TEER).
Os resultados deste trabalho evidenciam um decréscimo acentuado (80%) nos valores de TEER após 24 horas de exposição celular a 95 μM de patulina. De acordo com os autores do artigo, estes “resultados revelam-se concordantes” com outros estudos e sugerem “que a patulina altera a função da barreira do epitélio intestinal”.
Outra das conclusões mostra que a coadministração de patulina (95 μM) e cisteína (40 μM) revela um decréscimo nos valores de TEER, o que contrasta de “forma estatisticamente significativa, com os resultados obtidos aquando do tratamento com cisteína em concentração igual ou superior a 400 μM, nos quais não se observaram alterações nos valores de TEER”. O presente estudo sugere assim que “a exposição a patulina reduz a integridade da barreira da monocamada epitelial do intestino, o que poderá ser minimizado com a co-administração de 400 ou 4000 μM de cisteína”.
A patulina, uma micotoxina produzida por fungos do género Penicillium spp. durante o processo de deterioração da fruta, representa uma preocupação particular uma vez que a exposição humana a esta micotoxina pode resultar em toxicidade aguda ou crónica, descrevendo-se como potenciais efeitos de exposição os efeitos imunológicos, neurológicos e gastrointestinais. Os resultados deste trabalho “disponibilizam uma abordagem preliminar ao processo de absorção e transporte que ocorre após o processo de digestão de alimentos contaminados com micotoxinas, contribuindo para uma avaliação do risco mais precisa associada à exposição a contaminantes alimentares”.
“Caraterização in vitro dos efeitos tóxicos da patulina na integridade do epitélio intestinal e potenciais efeitos protetores da cisteína” foi publicado na última edição do Boletim Epidemiológico Observações, publicação científica do Instituto Ricardo Jorge que visa contribuir para o conhecimento da saúde da população, os fatores que a influenciam, a decisão e a intervenção em Saúde Pública, assim como a avaliação do seu impacte na população portuguesa. Para consultar o artigo de Ricardo Assunção, Carla Martins, Mariana Ferreira e Paula Alvito, clique aqui.